As confluências do eu feminino nas escritas poéticas e diarísticas de Alejandra Pizarnik
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar as obras Diarios (1955, 1956, 1957) e La última
inocencia (1956), ambas da fase inicial da produção da autora argentina Alejandra Pizarnik
(1936-1972), tendo como foco a construção identitária do sujeito feminino através da
confluência dos elementos presentes no discurso diarístico e poético, como a fragmentação do
eu lírico e do eu ficcional, a presença de uma prosa poética destacada nos diários, além de outros
aspectos. A pesquisa parte da hipótese interpretativa segundo a qual a leitura conjunta do corpus
de análise permite evidenciar que a construção formal fragmentada é ressaltada pelos discursos
que atravessam o “eu”, dando conta de uma multiplicidade vinculada à subjetivação do sujeito
feminino. Dessa forma, pretende-se demonstrar, nessa etapa da escrita de Pizarnik, a força
literária dos diários em consonância com a poesia, os enfrentamentos manifestos nas relações
com a criação literária, com o gênero (textual e sexual), com a identidade – centrada no
desdobramento do eu/outro e do não pertencimento – e com os imaginários sociais, que se
materializam por meio do uso subversivo da linguagem e contra o discurso patriarcal. Para
tanto, esta pesquisa recorre aos estudos críticos que refletem as estratégias empregadas por
Alejandra Pizarnik para romper os limites entre texto ficcional e não ficcional (PIÑA, 2006,
2012; VENTI, 2007; BECCIU, 2016). Além disso, baseia-se em estudos teóricos (LEJEUNE,
2014; MACIEL, 1996; GIORDANO, 2016) que discutem sobre a configuração da
autobiografia; da fragmentação do eu lírico da poesia moderna (CAMPOS, 1997; MILLER,
2010; CARA, 1985) e do sujeito feminino na literatura (CATELLI, 1996; RUSSOTTO, 1994).